Esta reportagem também foi uma das principais do Jornal Expresso em 2008, onde trouxe toda a trajetória de um cordeiropolense que não media esforços para trazer o teatro. Portanto, o Portal JE10 republica essa reportagem a pedido de muitos leitores. Reforçamos que essa reportagem foi produzida e publicada no ano de 2008 pelo Jornal Expresso. Relembre esse grandioso cordeiropolense que moveu céus e terra para a arte teatral de Cordeirópolis.
É com esta frase do título que o companheiro e amigo de teatro Rubem Antonio Gomes de Aguiar, o “Rubinho” como é conhecido popularmente, descreve a pessoa de Manoel de Souza Loureiro Neto, o “Mané Loureiro” segundo depoimentos da irmã Maria Aurea Loureiro Vidoretti (in memoriam).
“O amigo o descreve como” artista anônimo” pelo fato do Manoel ter sido uma pessoa arrojada, e que na época não tinha apoio financeiro, mas sim colaboração dos amigos, que eram pessoas que gostavam dele e desejavam ver as peças teatrais. Sem recurso algum ele conseguia trazer sempre o teatro e com muito sucesso”, afirmou.
Diante de todas as dificuldades, “Mané” tinha mais uma dificuldade: possuía pouca audição e, portanto, durante os ensaios era preciso que os artistas ficassem de frente com ele, para assim fazerem a leitura labial. “Todos de nossa família possuem este problema, nós irmãs, primas, somos um pouco surdos, mas esse fato não impediu que o nosso irmão deixasse de fazer o que mais gostava, estar no teatro”, acrescentou a irmã Maria José Loureiro, 88 anos.
Criatividade não faltava para este simples cordeiropolense que tinha em seu currículo apenas o primário, mas com uma faculdade especializada em improvisos no que dizia respeito a cultura teatral.
Para a confecção das roupas dos figurinos, Manoel Loureiro ganhava tecidos das fábricas têxteis e ele mesmo costurava. Os cenários também tinham seus toques habilidosos. “Ele ia atrás até de empresários da cidade para pedir verba ou tecidos para fazer as roupas. Na época o senhor Jamil Saad e a dona Marta davam muitos tecidos, ou se não podiam doar tudo, vendiam bem mais barato. Quantas e quantas horas ele ficou na máquina costurando essas roupas, era uma dedicação total”, afirmaram as irmãs (em 2008).
Família simples – Apesar de sua riqueza quando o assunto era o teatro, Manoel tinha os pés alicerçados em uma família simples e humilde que sempre lutou para a sobrevivência.
“Nós sempre fomos simples e lutávamos muito, inclusive o Manoel tinha uma máquina de fazer tricô e fazia roupas pra vender e ajudar em casa. Com muito esforço dele e nosso fizemos nossa casinha em que moramos hoje, pois esse era o maior sonho de nosso papai. Ele era um grande irmão e companheiro”, destacou Maria José que morou por muitos anos em Brasília trabalhando como enfermeira.
Histórico: Manoel de Souza Loureiro Neto nasceu em 29 de outubro de 1929 e faleceu de Hepatite C, em 25 de abril de 1978.
Filho de João de Souza Loureiro Sobrinho e Otávia Beraldo Loureiro e mais os cinco irmãos: Maria José Loureiro, Irineu de Souza Loureiro (era conhecido como “Compadre Souza” – faleceu em 04 de dezembro de 2007), Yvone Loureiro, Maria Áurea Loureiro Vidoretti e Irene Loureiro que sobreviveu apenas três aninhos por causa de um câncer ocular.
Trabalhava como servente na escola Jamil e a sua paixão era o teatro, onde permanecia madrugadas adentro para costurar as roupas, construir os cenários e ensaiar, para depois no outro dia levantar cedo e ir trabalhar na escola.
Na família as duas irmãs que deram entrevista ao “Expresso Regional” em 2008, trabalharam no teatro, bem como a irmã Yvone chegou a dirigir uma peça sob o título “O boi e o burro a caminho de Belém”. “Inclusive nesta peça o Marquinhos Barroca que hoje atua em “Ibicaba, a terra prometida” também atuou quando era criança”, lembrou Maria Áurea.
Reconhecimento – Peças que foram apresentadas na Sede Social Católica, hoje salão paroquial da Paróquia de Santo Antonio, Cordeiro Clube, escola Jamil e até mesmo com algumas apresentações no antigo prédio “Cine Paulista” (onde hoje é a Acorac). Títulos como: “O louco da Aldeia” e “Sombra do passado” em 1956, “Luiz ou a cruz do juramento”, “Canção de Bernadete” e “Noite Feliz” em 1958, “Estela Mares”, “O Cego do Paraguai” em 1961, Rosas de Nossa Senhora” e “O mundo não me quis” em 1960, “Jesus Rei dos Reis” em 1961 e “Toda donzela tem um pai que é uma fera”, além da “Paixão de Cristo” onde chegou a interpretar Jesus Cristo na encenação e “Esta noite é nossa” foram peças marcantes, sendo que esta última rendeu prêmio de melhor interpretação aos atores Silvia Beraldo e João Ronquizelli no festival “Melhores do teatro Amador do interior.“As peças de 1956 até 1961 eram do nosso grupo Dramático São Luiz Gonzaga, mas o Manoel sempre participou, pois quando não estava se apresentando estava por trás dos bastidores, enfim, era presente em tudo o que se pensava do teatro”, acrescentou Moacyr Ribeiro.
A mesma opinião é partilhada por Osvaldo Donizete Hubner: “Manoel foi um homem de seu tempo e reuniu, em torno de si, do sabor que é um elenco teatral, os companheiros que, ao incorporar personagens, transmitiram o mundo em Cordeirópolis ou fora dele. Ele confeccionou, uniu, propôs, encantou, comunicou, pontificou gerações na arte teatral”.
Homenagem: Devido a importância do papel fundamental prestado por este cordeiropolense é que a Câmara Municipal, através do vereador Sérgio Balthazar Rodrigues de Oliveira (PT) e os demais vereadores aprovaram no dia 05 de maio o Projeto de Lei nº 40, o qual denominou o espaço situado no subsolo do Centro Cultural Ataliba Barrocas localizado no final da Rua Siqueira Campos (Subestação).