Processo por irregularidades na gestão de 2004 levou quase 20 anos para ser finalizado
A Prefeitura de Cordeirópolis e o ex-prefeito Elias Abrahão Saad firmaram acordos judiciais de processos que somam o total em mais de R$ 3,5 milhões , referente ações de improbidade administrativa iniciada há quase 20 anos .
Um dos acordos foi assinado em novembro de 2024 entre os ex-prefeitos Elias Saad e Adinan Ortolan e está na fase da homologação da justiça após as instruções definitivas decorrente de processos movidos pelo Ministério Público de São Paulo entre todos os envolvidos, no caso o “proprietário” do imóvel, os ex-prefeitos e os 15 proprietários das vans que estavam arrolados no processo.
O caso começou a ser divulgado em 2005 , quando uma reportagem da época revelou que a administração municipal de Elias Saad , no último ano de seu mandato em 2004 , gastou mais de R$ 1 milhão com aluguel de vans e peruas para transporte municipal, sem incluir os custos do transporte escolar. O valor, segundo a investigação, foi pago a 15 pessoas e 6 empresas , alguns deles com possíveis vínculos com a gestão da época. A denúncia apresentou suspeitas de favorecimento ilícito, resultando na abertura de processos judiciais por improbidade administrativa em 2007.
Dívida e renegociação de pagamento
Após diversas decisões judiciais e recursos ao longo dos anos, a Justiça consolidou a dívida de R$ 2.302.669,03 em outubro de 2024. Para quitar o subsídio, Elias Saad e os réus formalizaram um acordo que inclui:
- Pagamento de R$ 2.167.154,83 por meio da cessão de um imóvel comercial para a Prefeitura de Cordeirópolis (Poupatempo);
- O município utilizará o imóvel por 176 meses , pagando um aluguel de R$ 12.350,00 por mês até a quitação total iniciando em 01/01/2032;
- Honorários advocatícios de R$ 135.514,20 , que serão pagos separadamente pelo réu em 20 parcelas de R$ 5.775,71
- Cláusulas de deliberação em caso de inadimplência, incluindo multas e possibilidade de execução judicial
O acordo encerra os processos relacionados ao caso, mas não anula a previsão de improbidade administrativa, que pode trazer restrições políticas a Elias.
Real situação
O aluguel inicia somente em 2032 devido a outro acordo judicial realizado em 2022 de outro processo referente a licitações de editais em jornal da época, a Tribuna. O término desse primeiro se dará em 31/12/2031. Neste, o acordo consiste em 10 anos, 120 parcelas de R$ 10 mil, a contar do ano de 2022, somando R$ 1,2 milhão, também revertido em aluguel Poupatempo, cujo o prazo final será apenas em 2047.
Há ainda a descrição nos autos que existem quatro processos que não foram inclusos nos referidos acordos:
- Dois que envolvem a empresa Condor, sendo que um deles há acordo judicial, referente a obras do Hospital em 2004, que foi assinado em maio de 2024, no valor de R$ 240 mil, a serem pagos em 40 parcelas de R$ 6 mil, fora as custas de honorários advocatícios.
- O outro ainda aguarda julgamento.
- Um processo envolvendo o abatedouro de Cascalho, que está pendente do laudo de avaliação.
- O quarto processo envolve um empresário que também firmou acordo judicial.
Somando os acordos judiciais realizados entre os ex-prefeitos nos anos de 2022 e 2024, chegam no total de R$ 3.742 milhões, sem somar do abatedouro e do acordo do empresário.
Impacto político para Cordeirópolis
Os processos envolvendo o ex-prefeito Elias Saad geram questionamentos sobre a narrativa política que tem sido construída nos últimos dias. O caso, iniciado em 2007 , teve seu desfecho apenas agora, com um pagamento parcelado ao município , quase duas décadas depois. Esse desdobramento levanta sobre o papel do ex-prefeito Adinan Ortolan no processo, uma vez que, sem seu consentimento e apoio, a situação financeira e judicial de Elias Saad não teria sido resolvida.
Além disso, a atual prefeita Cristina Saad , esposa de Elias Saad, não poderia formalizar diretamente o acordo, já que isso configuraria um conflito de interesses. Esse cenário reforça a tese de que houve uma comunicação e negociação prévia entre Elias Saad e Adinan Ortolan, resultando no entendimento que viabilizou o acordo.
Outro fator que pode ter influenciado essa negociação foi o impacto do processo sobre diversos perueiros que prestaram serviços ao município na época e que já estavam em fase de execução judicial. Muitos corriam risco de perder seus bens caso não houvesse um desfecho para a ação.
O que esperar a partir de agora
O desenrolar deste caso reforça a necessidade de transparência na gestão pública e do acompanhamento da população sobre o uso dos recursos municipais. Com o aumento das discussões sobre improbidade administrativa, a expectativa é que novos casos sejam julgados com mais agilidade e que ações judiciais contra ex-gestores não se arrastem por décadas.
O acordo firmado entre a Prefeitura de Cordeirópolis e Elias Saad encerra talvez um dos processos mais longos da cidade, mas deixa em aberto reflexões sobre a condução de casos semelhantes no futuro.
Ciclo político e a repetição de narrativas
A cada troca de gestão, um padrão se repete: acusações entre grupos políticos, denúncias de dívidas herdadas e disputas narrativas sobre a real situação da administração municipal. Nos bastidores, porém, acordos são feitos e antigos aliados tornam-se opositores.
No caso atual, muitos dos que hoje fazem oposição faziam parte da gestão anterior. A prefeita Cristina Saad, por exemplo, ocupava um cargo de alto escalão na Câmara Municipal até meses antes das eleições. Vereadores que deveriam fiscalizar o Executivo, agora fazem críticas, mas estiveram na base governista do ex-prefeito Adinan Ortolan, o atual vice-prefeito se dizia oposição. Além disso, comissionados que eram peças-chave na gestão anterior agora ocupam cargos estratégicos na nova administração, incluindo o maior salário da Prefeitura(tudo registrado no Portal da Transparência).
Diante desse cenário, a questão central não é apenas a existência de dívidas deixadas por administrações passadas, mas sim como elas são usadas politicamente. Se há irregularidades, os órgãos competentes devem ser acionados para as devidas apurações, enquanto a nova gestão precisa se concentrar em administrar e entregar resultados à população, afinal foi eleita para isso.
Dívida anterior, será publicada?
O leitor pode se perguntar: a dívida da gestão de Adinan Ortolan também será divulgada? Assim como ocorre com as informações da atual administração, o Portal JE10 traz os fatos ao conhecimento da população, cumprindo seu papel jornalístico de informar com transparência e imparcialidade.
O dever da imprensa não é apontar quem está certo ou errado, mas sim apresentar os fatos de forma clara e objetiva, para que a população possa avaliar e formar sua própria opinião. Se um fato existiu e ainda existe, ele será noticiado, respeitando os princípios legais com base na análise dos órgãos competentes, como Ministério Público e Justiça, fora desses órgãos, são meras especulações políticas.
O Portal JE10 mantém esse compromisso desde 2007, garantindo há 18 anos a informação com credibilidade, sem interferências políticas e sem distorção dos fatos.
Manifestação popular nas redes sociais
Nos últimos dias, um movimento crescente de descontentamento popular tem sido notado nas redes sociais. Internautas expressam cansaço diante da narrativa política que se arrasta há dias, cobrando resultados concretos e melhorias na cidade.
Em grupos como "Mobiliza Cordeirópolis", há várias postagens questionando a situação da saúde e de outros setores, refletindo uma insatisfação crescente da população, afinal 30 dias se passaram. Muitos moradores afirmam que votaram na atual administração esperando mudanças reais, e não apenas trocas de acusações entre gestões passadas.
Embora o tempo para reorganizar a administração seja curto, os eleitos sabiam da real situação da Prefeitura ao assumirem seus cargos. A justificativa de "herança de problemas" pode até ser legítima, mas a população já não aceita mais esse discurso como única resposta.
Se a prioridade da nova gestão for focar na governabilidade e no cumprimento de suas promessas, o cenário pode mudar. Caso contrário, a desconfiança popular tende a aumentar, o que pode impactar diretamente na credibilidade da administração e nas próximas eleições.