Por Tanani Ávila
No dia 25 de abril, ainda sob o céu nublado do outono paulista, um grupo de trilheiros colocou as mochilas nas costas e partiu do Horto Florestal, na cidade de São Paulo, rumo a um dos mais belos destinos de Minas Gerais: o Parque Estadual de Ibitipoca, em Lima Duarte. A caminhada, que pretende ser concluída em 75 dias, atravessará cerca de 950 km e passará por 38 municípios, em uma das mais longas e desafiadoras expedições já feitas na Serra da Mantiqueira.
Mas não se trata apenas de uma aventura pela natureza. Esta é a primeira expedição oficial pela Trilha Transmantiqueira, um projeto grandioso que busca mapear, sinalizar e estruturar um percurso de mais de mil quilômetros, interligando São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Mais que um caminho, a Transmantiqueira é uma ideia: conectar paisagens, proteger a biodiversidade e fortalecer o turismo sustentável.
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“Estamos aqui para abrir o caminho, entender o que funciona e o que precisa ser melhorado”, conta Luiz Aragão, coordenador da expedição, ex-chefe do Parque Nacional de Itatiaia e entusiasta das trilhas de longo curso. A equipe que o acompanha — formada por voluntários experientes — está mapeando trechos, identificando pontos frágeis e registrando locais estratégicos para apoio logístico. A cada dia, eles traçam rotas, conversam com moradores, anotam detalhes e, acima de tudo, caminham — entre serras, vales, rios e vilarejos.
A Transmantiqueira integra a Rede Nacional de Trilhas de Longo Curso e Conectividade, iniciativa que está transformando a forma como o Brasil enxerga suas paisagens naturais. Mais do que percursos para aventureiros, essas trilhas são vistas como corredores ecológicos, capazes de proteger espécies e habitats, ao mesmo tempo que oferecem novas oportunidades para o desenvolvimento econômico das comunidades locais.
Essa primeira caminhada pela Transmantiqueira tem um propósito claro: reconhecer e consolidar o traçado da trilha, substituindo, sempre que possível, trechos de estrada por caminhos naturais. Além disso, a equipe busca estabelecer parcerias com proprietários de terras, encontrar pontos seguros para acampamento, identificar locais de abastecimento e preparar a trilha para que, no futuro, qualquer pessoa — do trilheiro solitário ao grupo de amigos — possa percorrê-la com segurança e estrutura.
Recentemente, a expedição cruzou o distrito de São Francisco Xavier, em São José dos Campos, no interior paulista, um dos muitos cenários encantadores do percurso. Ali, como em tantos outros pontos, os trilheiros foram recebidos com curiosidade e acolhimento pela população local, que vê na trilha uma possibilidade de atrair visitantes e fortalecer a economia da região.
“Cada cidade, cada pessoa que encontramos no caminho, vai se tornando parte dessa história”, relata Aragão. “É bonito ver como a trilha não é só o trajeto, mas também as relações que construímos ao longo dela.”
O projeto está dividido em 19 setores, sendo que o Setor 18 — Serras do Ibitipoca é o mais longo, com cerca de 154 km distribuídos por seis trechos. Ele conecta cidades mineiras como Bom Jardim de Minas, Santa Rita de Jacutinga, Rio Preto, Olaria e Lima Duarte, culminando na joia do Parque Estadual de Ibitipoca, um dos destinos mais famosos do ecoturismo brasileiro.
A jornada da Transmantiqueira não é apenas física — embora o cansaço e os desafios de cada dia sejam constantes —, mas também simbólica: um esforço para aproximar o Brasil das suas trilhas, como já acontece em países onde esse tipo de percurso é tradicional e valorizado. Nos Estados Unidos, por exemplo, trilhas como a Appalachian e a Pacific Crest atraem milhares de caminhantes anualmente, movimentando economias locais e fortalecendo a cultura do turismo de natureza.
Aragão sonha com o dia em que as trilhas brasileiras tenham esse mesmo reconhecimento. “Queremos que a Transmantiqueira seja uma referência nacional, um lugar onde as pessoas possam caminhar por dias, semanas, com segurança, estrutura e beleza. E que isso gere também benefícios para quem vive nessas regiões.”
Até agora, a Associação Trilha Transmantiqueira já organizou mais de 10 seminários para divulgar o projeto, além de 20 mutirões de sinalização e manutenção, envolvendo voluntários, gestores de parques e comunidades locais. Mais de 200 km da trilha já estão devidamente sinalizados, marcando o avanço concreto desse sonho coletivo.
A caminhada, no entanto, está longe de ser apenas um passeio: a cada passo, a equipe registra pontos de água potável, locais adequados para pernoite e até possíveis postos de reabastecimento logístico — medida essencial para quem encara uma travessia tão longa, muitas vezes isolada de centros urbanos.
“Não é só sobre chegar ao final”, diz Aragão. “É sobre construir uma trilha viva, que funcione para as próximas gerações.”
A previsão é que os trilheiros cheguem a Ibitipoca no dia 9 de julho, após 75 dias de jornada. Até lá, o caminho segue pelas montanhas, pelas florestas e pelos corações das cidades que compõem esse vasto e belíssimo território da Serra da Mantiqueira.
Quem quiser acompanhar, passo a passo, essa expedição, pode seguir os perfis oficiais no Instagram: @trilhalongocurso e @trilhatransmantiqueira.
O Portal JE10 sente orgulho em ser apoiador do projeto.
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